Os motards, essa raça à parte
Ser motard significa geralmente mais do que conduzir uma mota: é um modo de estar na vida, com roupas e personalidade a condizer.
Com a possível excepção dos energúmenos do tuning, não haverá outra comunidade rodoviária tão unida por uma filosofia e estética comuns como a comunidade motard. Infelizmente, a forma como muitos conduzem as motas torna-os mais nocivos do que bem-vindos às estradas.
Nada me anima contra as motas ou veículos de duas rodas em geral: são um meio de locomoção eficiente, com vantagens evidentes de rapidez e economia. As scooters são práticas e baratas dentro das cidades; as motas de maior cilindrada permitem viagens rápidas e confortáveis em auto-estrada.
Compreendo também que requeiram roupas e acessórios próprios de protecção - as alas de Ortopedia dos hospitais que o digam.
A questão, e o motivo do post, começa quando um meio de locomoção se torna num modo de vida pseudo-alternativo, vestido de cabedal e arrogância da cabeça aos pés, e um veículo já de si perigoso é usado de forma irresponsável.
As motas atingem velocidades superiores à maioria dos carros, devido à sua relação peso/potência, e passam por espaços muito estreitos. Os motards - não todos, mas muitos - usam e abusam disto, criando problemas escusados.
Quantas vezes vamos na auto-estrada a uma velocidade já considerável para um carro, e uma mota passa por nós como se estivéssemos parados? Pior: quantas vezes se encostam a nós a alta velocidade, e nos ultrapassam pela esquerda ou pela direita - para alguns, tanto faz - a centímetros dos espelhos do carro?
É que para muitos motards não existe código da estrada: estão acima dele. Atrás do anonimato dos seus capacetes, são cavaleiros solitários do apocalipse que contornam a plebe dos carros, reles condutores abaixo de suas excelências. Pouco importa que o apocalipse seja geralmente o deles, pois não há capacete que proteja alguém de um espetanço a 200 ou 300 à hora.
São, porém, justamente os motards os primeiros a queixar-se. Sentem-se discriminados, desprotegidos, atacados. Alguns têm razão: o que não falta na estrada são bestas, daí a função pedagógica deste blog.
A questão é que perante o comportamento sistematicamente abusivo de tantos, as queixas dos bons perdem-se nos abusos dos maus. Muitos motards só deviam andar de bicicleta. Não se entende como ainda andam por aí de forma impune, como se as regras fossem só para os carros.
Ou seja, os motards já andam mais depressa e mais à vontade do que os carros, devido à natureza dos seus veículos; e querem também poder transgredir as as regras dos carros sem consequências, de preferência com uma passadeira vermelha. Mas talvez não seja preciso mudar nada.
Já vi muitos carros serem multados por excesso de velocidade, por passar traços contínuos, por desrespeitar esta ou aquela regra. Muitos carros, mas poucas motas. Mesmo muito poucas. O leitor quantas viu?